Na última reunião do Copom, marcada para o dia 10 de dezembro de 2025, a expectativa era clara: a taxa básica de juros – a famosa Selic – deveria permanecer em 15% ao ano. Essa decisão, que pode parecer apenas mais um número para quem não acompanha a economia de perto, tem um impacto direto no dia a dia de milhões de brasileiros. Neste texto, eu vou destrinchar o que está por trás dessa manutenção, como o Banco Central chega a essas decisões e, principalmente, o que tudo isso significa para quem ganha o salário mínimo, para quem tem financiamento imobiliário e para quem pensa em investir.
Um breve histórico: como chegamos aos 15%?
Para entender o porquê de a Selic estar em 15%, é preciso voltar alguns anos. Em 2015, o Brasil vivia uma crise inflacionária que chegou a 10% ao ano. O Banco Central, então, elevou a taxa para 14,25% – o patamar mais alto em quase duas décadas – como forma de conter a alta de preços. Desde então, a política de juros tem sido um jogo de equilíbrio entre conter a inflação e estimular o crescimento econômico.
Em 2023, com a inflação começando a cair, o Copom iniciou um ciclo de cortes que chegou a 13,75% em 2024. Mas a partir de 2025, a estratégia mudou: o BC adotou um sistema de metas contínuas, fixando a meta de inflação em 3% (com tolerância entre 1,5% e 4,5%). Quando as projeções de inflação ficam acima dessa faixa, a tendência é manter ou até subir a Selic.
Como o Copom decide? O que está na “carta” do Banco Central
O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne a cada 45 dias para analisar um monte de indicadores: preços de alimentos, energia, salários, expectativa de inflação, ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, claro, a situação fiscal do país. A decisão não se baseia nos preços que vemos nas lojas hoje, mas nas projeções para o futuro, porque o efeito da taxa de juros demora de seis a 18 meses para se manifestar na economia.
Na última reunião, o Copom manteve a Selic em 15% e enviou uma mensagem de “paciência e serenidade”. Os economistas do Itaú, do C6 Bank e da Blue3 Investimentos concordam que o BC ainda vê risco fiscal – ou seja, o alto gasto público – como um obstáculo para reduzir os juros mais rapidamente.
O que isso muda para quem está no dia a dia?
- Financiamento imobiliário: As taxas de juros de crédito imobiliário costumam ser atreladas à Selic mais um spread (uma margem de risco). Com a Selic em 15%, o custo total do financiamento permanece alto. Se você está planejando comprar a casa própria, pode esperar prestações que ainda consomem boa parte da renda.
- Cartão de crédito e empréstimos pessoais: As operadoras de cartão de crédito usam a Selic como referência para o cálculo do rotativo. Juros acima de 400% ao ano ainda são comuns. Enquanto a Selic não cair, essas taxas permanecem elevadas.
- Poupança: A caderneta de poupança tem rendimento atrelado à taxa Selic (quando esta está acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês + TR). Assim, a alta da Selic garante que a poupança continue rendendo, mas ainda assim está muito atrás de investimentos mais rentáveis.
- Investimentos: Títulos públicos (Tesouro Selic) acompanham a taxa básica, oferecendo segurança e liquidez. Para quem busca renda fixa, a Selic alta pode ser boa. Mas para quem quer retornos maiores, o cenário de juros altos ainda pode tornar o mercado de ações mais atrativo, já que empresas com boa gestão de custos podem se beneficiar.
Por que o mercado ainda acredita que o corte só vem em 2026?
Embora a maioria dos analistas concorde que a inflação está começando a recuar, ainda há incertezas:
- Risco fiscal: O déficit público continua alto. Gastos com salários, previdência e programas sociais pesam no orçamento, gerando pressões inflacionárias futuras.
- Pressões no mercado de trabalho: O desemprego ainda está em torno de 9%, mas a taxa de participação está alta, indicando que mais pessoas estão buscando emprego, o que pode elevar a pressão salarial.
- Hiato do produto positivo: O BC aponta que a economia está operando acima do seu potencial, mas sem gerar inflação excessiva – um sinal de que ainda há espaço para desaceleração controlada.
Por isso, o consenso é que o primeiro corte venha em janeiro de 2026 (0,25 ponto percentual) ou, no mais otimista, em março de 2026, levando a Selic para 14,5%.
Desaceleração econômica: estratégia ou necessidade?
O próprio Copom tem deixado claro que uma desaceleração moderada faz parte da estratégia para conter a inflação. Quando a economia cresce muito rápido, a demanda por bens e serviços aumenta, puxando os preços para cima. Reduzir o ritmo de crescimento ajuda a aliviar essas pressões, principalmente no setor de serviços, que costuma ser mais sensível a variações de demanda.
Na ata da última reunião, o BC ressaltou que o “hiato do produto” continua positivo, o que significa que a produção ainda está acima do nível de pleno emprego, mas sem gerar inflação descontrolada. É como se a economia estivesse caminhando em um corredor estreito: pode acelerar um pouco, mas se for muito rápido, bate nas paredes da inflação.
O que eu, como cidadão, posso fazer?
Entender a política de juros pode parecer coisa de economista, mas tem algumas atitudes práticas que ajudam a proteger o seu orçamento:
- Revisite seus contratos: Se você tem financiamento imobiliário, veja se há possibilidade de renegociação ou portabilidade para outra instituição que ofereça spread menor.
- Planeje o consumo: Em períodos de juros altos, o crédito fica mais caro. Evite compras parceladas no rotativo do cartão e prefira pagar à vista, quando possível.
- Diversifique investimentos: Não deixe todo o dinheiro na poupança. Avalie títulos públicos, CDBs de bancos médios que pagam acima da Selic, e até fundos de renda fixa.
- Acompanhe a inflação: Itens como alimentos e energia têm peso grande no orçamento das famílias de baixa renda. Monitorar esses preços ajuda a ajustar o planejamento mensal.
Perspectivas para 2027 e além
O Copom já está olhando para o segundo trimestre de 2027 ao definir a política monetária. As projeções de inflação para os próximos anos ainda estão acima da meta de 3% (4,40% em 2025, 4,16% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028). Isso indica que, mesmo com a desaceleração, a inflação pode permanecer um pouco alta nos próximos anos.
Se a inflação permanecer acima da meta, o BC pode precisar manter a Selic em patamares elevados por mais tempo, o que impacta a dívida pública, o consumo e o investimento privado. Por outro lado, se as reformas estruturais (fiscais e administrativas) avançarem, pode haver um alívio nas pressões inflacionárias, permitindo cortes mais rápidos.
Conclusão: juros altos, mas com esperança
Manter a Selic em 15% não é uma vitória nem uma derrota – é simplesmente o reflexo de um cenário econômico complexo, onde inflação, crescimento e finanças públicas se entrelaçam. Para o cidadão comum, o ponto mais importante é estar atento ao custo do crédito, buscar alternativas de investimento mais rentáveis e acompanhar as notícias de perto.
Se você ainda tem dúvidas sobre como a taxa de juros afeta sua vida, deixe um comentário. Eu adoro trocar ideias e, quem sabe, a gente não descobre juntos alguma estratégia que ajude a melhorar o orçamento familiar.
Até a próxima, e lembre‑se: entender a economia pode ser a chave para tomar decisões financeiras mais inteligentes.




