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Frango brasileiro dispara nas exportações mesmo após a gripe aviária: o que isso significa para o nosso prato e para a economia

Frango brasileiro dispara nas exportações mesmo após a gripe aviária: o que isso significa para o nosso prato e para a economia

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Quando a gente pensa em exportação de carne no Brasil, a primeira imagem que vem à cabeça costuma ser a dos grandes rebanhos de bovinos. Mas, nos últimos anos, o frango tem sido o verdadeiro protagonista dos números. E, apesar de um susto causado pela gripe aviária em uma granja do Rio Grande do Sul, as exportações de carne de frango continuam subindo. Hoje eu quero contar como isso aconteceu, por que isso importa para quem compra frango no supermercado e o que podemos esperar nos próximos anos.

O cenário atual: números que surpreendem

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações de frango devem chegar a 5,32 milhões de toneladas em 2025. Para colocar em perspectiva, em 2024 o volume embarcado foi de 5,295 milhões de toneladas – ou seja, um crescimento de quase 1 %. E não é só isso: a produção nacional está projetada para alcançar 15,3 milhões de toneladas em 2025, frente a 14,972 milhões em 2024. Em 2026, a expectativa é de 5,5 milhões de toneladas exportadas e 15,6 milhões de toneladas produzidas.

O choque da gripe aviária e a resposta rápida

Em maio de 2024, um caso isolado de gripe aviária foi detectado em uma granja comercial de Montenegro, no Rio Grande do Sul. A notícia gerou um embargo imediato de vários países, incluindo a China, que é um dos maiores compradores de frango brasileiro. O embargo poderia ter causado uma queda de 2 % nas exportações, como a ABPA havia projetado em agosto.

Mas a situação foi controlada rapidamente. Não houve novos casos e, em novembro, a China retirou as restrições. Esse retorno foi crucial para que as exportações voltassem a crescer. O presidente da ABPA, Ricardo Santin, chegou a dizer que nem nos seus melhores sonhos esperava anunciar números positivos naquele momento.

Por que o frango brasileiro continua sendo tão competitivo?

  • Preço: o custo de produção no Brasil ainda está abaixo de muitas regiões concorrentes, como a União Europeia ou os EUA.
  • Qualidade: os padrões sanitários e de rastreabilidade são reconhecidos internacionalmente, o que abre portas em mercados exigentes.
  • Flexibilidade: o Brasil adotou um sistema de restrição regionalizada. Quando surge um surto, a exportação é barrada apenas para a região afetada, não para todo o país.

Esses fatores, combinados com a capacidade de aumentar rapidamente a produção, criam um ambiente onde o frango pode se adaptar a choques externos sem perder a confiança dos compradores.

Impacto econômico: mais que números no papel

O prejuízo estimado pela gripe aviária foi de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões. Embora seja uma quantia significativa, fica bem abaixo das perdas que os Estados Unidos enfrentam com crises semelhantes, que chegam a trilhões de dólares. Essa diferença mostra a resiliência do nosso setor avícola.

Para o consumidor brasileiro, a força nas exportações pode parecer contraditória, já que o preço interno do frango tem subido nos últimos anos. Mas a alta demanda externa ajuda a manter a produção em alta escala, o que, a longo prazo, pode gerar economias de escala e, potencialmente, estabilizar os preços domésticos.

O futuro do frango e da suína no Brasil

Além do frango, a ABPA projeta um crescimento nas exportações de carne suína: 1,49 milhões de toneladas em 2025, contra 1,35 milhões em 2024. O Brasil pode se tornar o terceiro maior exportador mundial de carne de porco ainda este ano. Esse salto se deve, em parte, à crise da peste suína africana que atingiu a Espanha, um dos maiores produtores da UE. Com a China restringindo as importações espanholas, o Brasil ganha espaço.

Essas duas linhas de produção – frango e suína – são estratégicas para diversificar a pauta de exportações brasileiras. Enquanto o frango já tem uma base sólida, a carne suína está em fase de expansão, o que pode trazer novas oportunidades de emprego, investimentos em infraestrutura e tecnologia.

O que isso significa para você, consumidor?

Se você costuma comprar frango no supermercado, pode se perguntar se tudo isso vai mudar o seu prato. A resposta curta é: não necessariamente. O que muda é o pano de fundo que garante que o produto continue disponível e, eventualmente, mais barato.

  • Segurança alimentar: a capacidade de exportar grandes volumes força os produtores a manter padrões de qualidade elevados.
  • Variedade: com mais recursos, os frigoríficos podem investir em cortes diferenciados, produtos processados e até em linhas de frango orgânico.
  • Estabilidade de preço: embora a inflação global ainda pese, a competitividade do setor pode amortecer aumentos bruscos.

Além disso, o sucesso nas exportações gera receitas que podem ser reinvestidas em pesquisa e desenvolvimento, como melhoramento genético, redução de impactos ambientais e bem‑estar animal.

Desafios que ainda precisamos enfrentar

Apesar dos números animadores, há desafios que não podem ser ignorados:

  1. Vigilância sanitária: manter o controle de doenças como a gripe aviária exige investimento constante em monitoramento e resposta rápida.
  2. Logística: a infraestrutura de transporte – rodovias, ferrovias, portos – ainda precisa de melhorias para reduzir custos e perdas.
  3. Sustentabilidade: a produção em larga escala tem impactos ambientais. Investir em energia renovável, manejo de resíduos e redução de emissões será crucial.

O governo, as associações e as empresas já têm programas em andamento, mas a pressão dos mercados internacionais pode acelerar essas mudanças.

Olhando para 2026 e além

Se tudo continuar como planejado, em 2026 o Brasil pode exportar até 5,5 milhões de toneladas de frango e produzir 15,6 milhões de toneladas. A expectativa é que, mesmo que um novo surto de gripe aviária ocorra, o impacto será menor graças ao modelo de restrição regionalizada.

Para quem acompanha o agronegócio, isso indica que o Brasil está consolidando sua posição como fornecedor global confiável. Para o cidadão comum, significa que o frango que chega à mesa tem uma história de resiliência e adaptação que, embora invisível, garante a continuidade do alimento que tanto gostamos.

Conclusão

O aumento das exportações de frango brasileiro, mesmo após um episódio de gripe aviária, mostra a força do nosso agro. O que antes parecia um revés acabou se transformando em uma oportunidade de provar que o Brasil tem capacidade de reagir rápido, manter a qualidade e atender a demandas globais.

Se você ainda não pensa na origem do frango que compra, talvez seja hora de dar uma olhada. Cada bandeja tem uma história de produtores, pesquisadores e políticas que, juntas, mantêm o Brasil no topo das exportações. E, no fundo, isso pode trazer benefícios diretos para o seu bolso e para a nossa economia.

Fique de olho nas próximas colheitas, nas inovações do setor e, claro, nas notícias que acompanham esse mercado tão dinâmico. Afinal, o futuro do nosso prato depende muito mais do que apenas temperos – depende de estratégia, tecnologia e, sobretudo, da capacidade de superar desafios.