Na manhã desta terça‑feira (9), o dólar subiu 0,22 % e chegou a R$ 5,4325, enquanto o Ibovespa recuou 0,41 % para 157.532 pontos. Parece mais uma notícia de mercado do que algo que afete o dia a dia, mas a verdade é que esses movimentos têm consequências diretas no preço dos produtos, nas tarifas de serviços e até nas decisões de investimento que tomamos.
Por que o dólar está subindo?
O principal motor da alta do dólar são as expectativas em torno dos dados de emprego nos Estados Unidos e as decisões de política monetária que serão tomadas amanhã – tanto pelo Federal Reserve (Fed) quanto pelo Banco Central do Brasil (BCB). Quando os investidores veem sinais de que a economia americana pode estar mais fraca, eles tendem a buscar segurança no dólar, que é considerado um “porto‑seguro”.
Nos EUA, o relatório JOLTS (Job Openings and Labor Turnover Survey) e a pesquisa semanal da ADP sobre empregos privados são os indicadores que o mercado está de olho. Eles ajudam a calibrar as expectativas para a reunião do Fed, que deve decidir se corta a taxa de juros em 0,25 ponto percentual. Se o Fed cortar, o dólar tende a cair; se mantiver ou subir, o dólar pode subir ainda mais.
E no Brasil? O que o Copom está pensando?
Já aqui, a reunião do Copom está marcada para amanhã, e a maioria dos analistas acredita que a Selic vai permanecer em 15 % ao ano. O presidente do BCB, Gabriel Galípolo, já sinalizou que os juros devem ficar “elevados” por enquanto, porque o mercado de trabalho ainda mostra resiliência – a taxa de desemprego caiu para 5,4 % no último trimestre, o menor nível desde 2012.
Essa combinação de juros altos e desemprego em queda cria um cenário incomum: normalmente, juros altos freiam a economia e aumentam o desemprego, mas não está acontecendo agora. Essa “anomalia” gera dúvidas sobre quando o ciclo de redução de juros realmente vai começar – em janeiro ou só em março?
Como tudo isso mexe com a sua conta bancária?
- Produtos importados: Quando o dólar sobe, os preços de eletrônicos, roupas e até alimentos importados tendem a subir. Se você costuma comprar algo de sites internacionais, pode notar o preço final mais alto.
- Tarifas de viagem: Passagens aéreas e pacotes turísticos que são cotados em dólares ficam mais caros. Quem planeja viajar para fora do país sente o impacto imediatamente.
- Investimentos: Para quem tem investimentos em renda fixa atrelada ao CDI, a alta da taxa Selic protege contra a desvalorização do real. Já quem tem ações ou fundos de investimento no exterior vê o retorno convertido em reais ser maior.
- Financiamentos e empréstimos: A manutenção da Selic em 15 % significa que os custos de crédito permanecem altos. Se você está pensando em financiar um carro ou imóvel, talvez seja melhor esperar por uma eventual queda nos juros.
O clima político e seu reflexo nos mercados
Além dos números econômicos, a política também está mexendo nos mercados. Flávio Bolsonaro, senador e potencial candidato à Presidência em 2026, afirmou que sua candidatura é “irreversível”. O apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reforçou a mensagem, mas ao mesmo tempo gerou dúvidas sobre a coesão da direita.
Analistas de mercado, como Leonel Mattos da StoneX, apontam que a simples menção de Flávio como candidato pode aumentar a percepção de risco fiscal. Por quê? Porque um cenário de divisão de votos entre diferentes nomes da direita pode favorecer a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o que, por sua vez, pode levar a políticas de expansão fiscal que pressionam a taxa de câmbio.
Em termos práticos, esse risco político costuma elevar o “prêmio de risco” exigido pelos investidores estrangeiros para aplicar no Brasil, o que costuma pressionar o real para baixo e o dólar para cima.
O panorama global: o que está acontecendo nas bolsas?
Nos Estados Unidos, os futuros dos principais índices (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) avançam levemente, indicando cautela antes da decisão do Fed. Na Europa, a maioria das bolsas também está em alta, enquanto na Ásia, a China e Hong Kong registram quedas após sinais de que não haverá estímulos adicionais no curto prazo.
Esses movimentos globais têm efeito dominó: se o Fed cortar juros, pode haver uma onda de alta nos mercados emergentes, inclusive no Brasil, porque o fluxo de capitais tende a buscar retornos mais altos. Se o Fed mantiver os juros, o fluxo pode permanecer nos ativos considerados mais seguros, como o dólar.
O que eu, como investidor ou consumidor, devo fazer?
- Revisar a carteira de investimentos: Avalie a exposição ao dólar. Se você tem fundos de investimento internacionais, talvez seja hora de rebalancear. Se a maior parte está em renda fixa brasileira, a alta do dólar pode ser um “custo oculto”, mas a Selic alta protege seu poder de compra.
- Planejar compras internacionais: Se for comprar algo em dólares, tente fechar a transação agora, antes que o preço suba ainda mais.
- Ficar de olho nas notícias de política monetária: A decisão do Fed amanhã pode mudar rapidamente o cenário. Uma queda de 0,25 ponto na taxa americana costuma desvalorizar o dólar em torno de 0,5 % a 1 %.
- Observar a política interna: A estabilidade ou instabilidade política pode influenciar a taxa de câmbio. O discurso de Flávio Bolsonaro pode gerar volatilidade adicional, então acompanhe os desenvolvimentos.
Conclusão
O que parece ser apenas mais um dia de alta do dólar e queda da bolsa tem, na verdade, várias camadas: dados de emprego nos EUA, decisões de juros de dois bancos centrais, e ainda um cenário político brasileiro que ainda está se definindo. Cada um desses fatores pode mudar a forma como seu dinheiro rende, quanto você paga por um produto importado ou quanto custa aquela viagem que você sonha.
Meu conselho? Mantenha-se informado, revise suas finanças regularmente e, se possível, diversifique. O mercado é volátil, mas com informação e planejamento a gente consegue transformar a incerteza em oportunidade.




