Na quinta‑feira (4) o IBGE divulgou os números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2025. O resultado foi bem discreto: crescimento de apenas 0,1 % em relação ao trimestre anterior. Em valores correntes, a economia movimentou R$ 3,2 trilhões. Para quem acompanha a notícia, a primeira impressão costuma ser de preocupação – afinal, depois de um trimestre com alta de 0,3 % (segundo trimestre) parece que o ritmo está perdendo força.
Entendendo o número
Antes de entrar nos detalhes, vale explicar rapidamente o que esse “0,1 %” realmente representa. Quando falamos de variação trimestral, estamos comparando o valor do PIB de julho‑setembro com o de abril‑junho. Um aumento de 0,1 % significa que, ao todo, a produção de bens e serviços no país praticamente se manteve no mesmo patamar. Em termos de dinheiro, isso equivale a cerca de R$ 3,2 bilhões a mais – um número que parece grande, mas que, dividido pela população, tem impacto quase imperceptível no dia a dia.
Como chegamos aqui? O que mudou nos setores?
O IBGE detalhou a performance por setores, e isso ajuda a entender onde a economia está ganhando força e onde está perdendo fôlego.
- Indústria: +0,8 % – ainda a maior alta do trimestre, puxada principalmente por máquinas, equipamentos e produtos químicos.
- Agropecuária: +0,4 % – a produção de soja, milho e carne continua crescendo, embora em ritmo mais moderado.
- Serviços: +0,1 % – praticamente estável, mas com quedas em segmentos como financeiros e seguros.
- Consumo das famílias: +0,1 % – a menor taxa desde 2022, sinal de que os brasileiros estão mais cautelosos.
- Consumo do governo: +1,3 % – o gasto público ajudou a segurar a demanda interna.
- Investimentos: +0,9 % – recuperação após retração no trimestre anterior.
- Exportações: +3,3 % – o grande destaque, impulsionado por soja, carne e minério de ferro.
- Importações: +0,3 % – leve alta, indicando que o comércio exterior está equilibrado.
Esses números mostram um cenário misto: enquanto a indústria e as exportações dão um gás, o consumo das famílias e dos serviços está perdendo ritmo.
Por que o consumo das famílias está desacelerando?
Um dos principais culpados é a taxa Selic, que está estacionada em 15 % ao ano – o patamar mais alto em quase duas décadas. Juros altos encarecem o crédito, aumentam o custo das dívidas e, consequentemente, deixam as famílias menos dispostas a gastar. Mesmo com o desemprego em níveis historicamente baixos, o medo de comprometer a renda com parcelas caras faz com que a gente prefira segurar o dinheiro.
A analista do IBGE, Claudia Estermínio, explicou que a “massa salarial” e o mercado de trabalho aquecido ajudam a compensar um pouco o efeito dos juros, mas não o suficiente para manter o consumo no mesmo ritmo de antes.
O que isso significa para quem trabalha, investe ou planeja o futuro?
Para quem tem um emprego fixo, a notícia traz alguns sinais de alerta. Primeiro, a estabilidade do PIB não garante que salários vão subir rapidamente. Se a inflação permanecer alta, o poder de compra pode continuar apertado. Por outro lado, setores como indústria e agronegócio ainda mostram crescimento, o que pode gerar oportunidades de emprego ou de renda extra nesses segmentos.
Para os investidores, a mensagem é de cautela e diversificação. O desempenho sólido das exportações sugere que empresas exportadoras de commodities (soja, carne, minério) podem ter resultados melhores. Já setores de consumo interno, como varejo e serviços, podem enfrentar margens mais apertadas, o que exige atenção ao escolher ações ou fundos.
Se você está planejando comprar um imóvel, reformar a casa ou fazer um curso, vale observar que o crédito mais caro pode encarecer financiamentos. Avaliar opções de pagamento à vista ou renegociar dívidas pode ser uma estratégia inteligente para não ser surpreendido por parcelas maiores.
O papel das exportações: o Brasil ainda tem força no exterior
Um ponto positivo que merece destaque são as exportações, que cresceram 3,3 % no trimestre. Mesmo com o “tarifaço” e algumas barreiras comerciais, exportadores conseguiram redirecionar mercados, principalmente para a China, que continua sendo o maior comprador de soja e carne brasileiras. A indústria extrativa – como minério de ferro – também manteve boa performance.
Esse impulso externo ajuda a compensar a fraqueza do consumo interno. Para quem tem negócios que dependem de insumos importados, a alta nas exportações pode significar um ambiente de demanda mais estável e, possivelmente, preços mais competitivos.
Revisões e o que esperar para 2025
O IBGE está em processo de atualização do ano‑base das contas nacionais (de 2010 para 2021). Enquanto isso, os números trimestrais são considerados provisórios. As revisões feitas até agora elevaram a taxa de crescimento anual de 2025: 1º trimestre passou de 2,9 % para 3,1 % e 2º trimestre de 2,2 % para 2,4 %.
A Secretaria de Política Econômica (SPE) avaliou que a perda de fôlego no consumo das famílias ajudou a reduzir o ritmo de expansão do PIB, mas ainda vê a trajetória geral como positiva. A expectativa para o quarto trimestre é de leve recuperação nos serviços, impulsionada por um ajuste nos juros ou por políticas de estímulo ao consumo.
Comparação internacional: onde o Brasil se posiciona?
Entre os países do G‑20 que já divulgaram o PIB do terceiro trimestre, o Brasil ficou em 11º lugar na variação trimestral, 8º na comparação anual e 6º no acumulado de quatro trimestres. Não é a melhor colocação, mas mostra que, apesar da desaceleração, o país ainda tem um desempenho razoável frente a economias maiores.
O que podemos fazer agora?
Não há fórmula mágica, mas alguns passos simples podem ajudar a navegar esse cenário:
- Rever o orçamento pessoal: Corte gastos supérfluos e priorize dívidas com juros altos.
- Buscar fontes de renda extra: Freelance, trabalhos temporários ou venda de produtos artesanais podem compensar a estagnação do consumo.
- Investir com cautela: Diversifique entre ações de exportação, fundos de renda fixa e, se possível, ativos internacionais.
- Ficar atento às políticas públicas: Mudanças na taxa Selic, no imposto de renda ou em programas de apoio ao consumo podem alterar rapidamente o panorama.
Em resumo, o PIB de 0,1 % no terceiro trimestre é um sinal de que a economia está em um ponto de equilíbrio delicado. Não é motivo para pânico, mas sim para atenção. Entender onde estão as oportunidades (indústria, agronegócio, exportação) e onde os riscos podem aparecer (consumo das famílias, crédito caro) ajuda a tomar decisões mais informadas, seja no trabalho, nos investimentos ou no planejamento familiar.
Vamos acompanhar os próximos dados com olhos críticos e, quem sabe, transformar esses números em estratégias práticas para melhorar a nossa vida financeira.




