O calendário da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo 2026 já está definido, e os três primeiros jogos caem à noite – horário de Brasília. A estreia contra o Marrocos será no sábado, 13 de junho, às 19h, seguida por partidas contra Haiti (19 de junho, 22h) e Escócia (24 de junho, 19h). Se a nossa equipe avançar, a tendência é que os próximos confrontos também ocorram em dias úteis.
O que a legislação trabalhista realmente prevê?
Logo de cara, a resposta é simples: não há feriado nacional para dias de jogo da seleção. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não traz nenhuma exceção que obrigue as empresas a liberar os funcionários ou a conceder folga remunerada nesses dias. Isso significa que, juridicamente, o expediente continua normalmente, independentemente do horário ou da importância da partida.
Mas na prática, o que costumam fazer as empresas?
Embora a lei não imponha a liberação, muitas organizações adotam políticas internas de flexibilização. A ideia é boa: manter a moral da equipe alta e aproveitar o clima de festa nacional. Exemplos recentes incluem a startup GetNinjas, em São Paulo, que decorou o escritório e permitiu que os colaboradores assistissem ao jogo em casa ou até mesmo no próprio ambiente de trabalho.
Outras empresas optam por suspender a jornada por algumas horas, permitindo que o time volte ao trabalho depois da partida. Ainda há quem mantenha o expediente completo, tratando o jogo como qualquer outra atividade externa ao horário de trabalho.
Folga remunerada ou compensação? Como funciona?
Quando a empresa decide liberar o funcionário sem desconto, a ausência é considerada folga remunerada. Essa prática pode ser adotada de forma unilateral, sem necessidade de acordo coletivo, desde que a regra seja comunicada claramente a todos os colaboradores.
Entretanto, se a liberação for parcial (por exemplo, liberar apenas o horário do jogo) ou total, a empresa pode exigir compensação. O advogado trabalhista Marcel Zangiácomo explica que a compensação deve respeitar os limites legais de jornada diária – não se pode exigir mais de duas horas extras por dia – e deve ser formalizada em acordo, seja verbal, escrito individual ou coletivo.
O prazo para compensar essas horas pode chegar a até um ano, contanto que o acordo esteja devidamente registrado. Essa flexibilidade ajuda a evitar surpresas na folha de pagamento e protege tanto o empregador quanto o empregado.
O que acontece se eu faltar sem autorização?
Falta injustificada em dia de jogo continua sendo considerada ausência comum. O trabalhador pode ter descontos nas horas não trabalhadas e, em casos de reincidência, sofrer advertências ou até suspensão. Contudo, a falta para assistir à partida, sem aviso prévio ou negociação, não caracteriza justa causa para demissão.
Para quem atua em setores essenciais – saúde, transporte, segurança pública ou serviços de atendimento ao público – a situação é ainda mais delicada. Nessas áreas, a operação precisa ser contínua, e a empresa tem menos margem para interromper o serviço. Por isso, acordos individuais são mais frequentes, e o diálogo antecipado torna‑se fundamental.
Dicas práticas para se organizar antes da Copa
- Converse com seu chefe com antecedência: explique seu interesse em assistir ao jogo e veja se há possibilidade de ajuste de horário ou compensação.
- Documente tudo: se houver acordo, registre por escrito (e‑mail, mensagem ou contrato) para evitar mal‑entendidos.
- Planeje a compensação: se precisar repor horas, combine dias ou períodos que não prejudiquem a produção da equipe.
- Respeite as regras da empresa: se a política interna for de expediente integral, não tente assistir ao jogo no local de trabalho sem autorização – isso pode ser interpretado como indisciplina.
Impactos no dia a dia dos trabalhadores
Para a maioria dos profissionais, a Copa do Mundo traz um dilema entre a paixão pelo futebol e as responsabilidades laborais. A ausência de uma lei específica gera espaço para negociação, mas também pode gerar insegurança. Quando a empresa demonstra boa vontade, o clima interno costuma melhorar, gerando engajamento e até aumento de produtividade nos dias seguintes.
Por outro lado, em ambientes onde a liberação não é oferecida, o trabalhador pode sentir frustração, especialmente se a partida for decisiva. Nesses casos, a estratégia mais segura é buscar um acordo prévio ou, se isso não for possível, aceitar a ausência como parte da rotina e planejar o lazer fora do horário de trabalho.
O que esperar nos próximos anos?
Com a crescente popularidade dos eventos esportivos e a ampliação do home office, é provável que mais empresas adotem políticas flexíveis para grandes jogos. Algumas companhias já experimentam “dias de torcida” com horários reduzidos, enquanto outras criam espaços de convivência com telões nos escritórios.
Entretanto, até que haja uma regulamentação específica, a decisão continuará nas mãos de cada empregador. Por isso, manter o diálogo aberto, entender os direitos e estar disposto a negociar são as melhores armas do trabalhador.
Em resumo, não há obrigação legal de conceder folga nos dias de jogo da seleção, mas a prática de flexibilização está cada vez mais presente nas empresas brasileiras. Se você quer garantir seu lugar no sofá ou no barzinho com os amigos, planeje, converse e registre tudo – assim você curte a Copa sem preocupações e ainda mantém seu emprego em dia.




