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Por que a Honda CG 160 continua dominando as ruas brasileiras – e o que isso revela sobre o futuro das motos no país

Por que a Honda CG 160 continua dominando as ruas brasileiras – e o que isso revela sobre o futuro das motos no país

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Na última semana eu estava tomando um café na varanda, observando o trânsito que passava embaixo da minha janela, quando percebi que, mais uma vez, a mesma moto passava duas vezes: uma Honda CG 160. Não foi coincidência. O número de unidades emplacadas dessa máquina bate recorde, e a lista das 10 motos mais vendidas no Brasil até novembro de 2025 confirma o que eu já suspeitava: a CG 160 é a rainha das duas rodas no país.

Um panorama rápido dos números

Segundo a Fenabrave, de janeiro a novembro de 2025 foram emplacadas 2.004.150 motocicletas. Isso representa um crescimento de 16,25 % em relação ao mesmo período de 2024. No mês de novembro, o volume foi de 180.601 unidades, 22,84 % a mais que em novembro de 2023, embora tenha sido 13,9 % menor que em outubro de 2025, quando foram 209.767 motos.

A projeção para o fim do ano é de 2.157.188 emplacamentos, o que pode estabelecer um recorde histórico. Atualmente, as motocicletas já respondem por 43,2 % de todos os veículos registrados em 2025. Ou seja, quase metade dos novos veículos nas ruas são duas rodas.

Quem está no topo da lista?

A lista completa das 10 motos mais vendidas até novembro de 2025 mostra claramente a hegemonia da Honda, que ocupa 7 das 10 posições:

  • Honda CG 160 – 437.088 unidades
  • Honda Biz – 243.405 unidades
  • Honda Pop 110i – 215.399 unidades
  • Honda NXR 160 Bros – 181.687 unidades
  • Honda CB300F – 60.116 unidades
  • Honda PCX 160 – 49.379 unidades
  • Honda XRE 300 – 39.795 unidades
  • Mottu Sport 110i – 94.320 unidades (única não Honda)
  • Yamaha YBR 150 – 65.574 unidades
  • Yamaha Fazer 250 – 42.190 unidades

Se você somar todas as unidades das motos Honda da lista, chega a mais de 1,2 milhão de veículos. Isso significa que, aproximadamente, 60 % das duas rodas vendidas neste período são da mesma marca.

Por que a CG 160 é tão popular?

Não é segredo que a CG 160 tem um DNA de robustez e custo‑benefício. Ela foi projetada para ser fácil de manter, resistente a condições adversas e, acima de tudo, acessível. O preço médio de fábrica gira em torno de R$ 19.200, o que a coloca dentro do orçamento de milhares de brasileiros que precisam de um veículo para trabalhar.

O presidente da Fenabrave, Arcelio Junior, descreve a moto como “ferramenta de trabalho para entregadores, pequenos empreendedores e prestadores de serviço, além de alternativa mais acessível de mobilidade em grandes e médias cidades”. Essa frase resume bem o papel da CG 160: ela não é apenas um lazer, mas um meio de subsistência para muita gente.

Além do preço, há outros fatores que reforçam a preferência:

  • Rede de revenda: a Honda tem concessionárias em praticamente todas as cidades brasileiras, facilitando a compra e a manutenção.
  • Peças de reposição: a disponibilidade de componentes originais e de terceiros mantém o custo de manutenção baixo.
  • Consumo de combustível: com média de 30 km/l, a CG 160 ajuda a reduzir o gasto mensal com gasolina.
  • Facilidade de pilotagem: a potência de 160 cc oferece um equilíbrio entre desempenho urbano e economia.

O que a predominância de motos de baixa cilindrada nos diz sobre o Brasil?

De acordo com a lista, cerca de 90 % das motos vendidas em 2025 têm até 160 cc. Essa tendência reflete a realidade socio‑econômica do país:

  1. Necessidade de mobilidade barata: em cidades onde o transporte público é insuficiente, a moto se torna a solução mais barata e flexível.
  2. Uso como segundo veículo: muitas famílias adquirem a moto para complementar o carro, principalmente para deslocamentos curtos ou entregas.
  3. Barreiras de crédito: o financiamento de motos de baixa cilindrada costuma ser mais fácil e com parcelas menores.

Esses fatores criam um círculo virtuoso: quanto mais a população depende da moto, maior a demanda por modelos econômicos, o que por sua vez incentiva as montadoras a investirem em linhas de baixa cilindrada.

As motos elétricas ainda são minoria, mas há sinais de mudança

Enquanto as motos a combustão continuam dominando, as elétricas ainda são quase inexistentes no Brasil. De janeiro a novembro de 2025, foram emplacadas 7.643 unidades de motos 100 % elétricas – menos de 0,4 % do total. Ainda assim, o crescimento foi de 15,17 % em relação ao mesmo período de 2024.

O que está impulsionando esse pequeno, porém significativo, aumento?

  • Incentivos municipais: algumas capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, oferecem isenção de IPVA e descontos em estacionamento para veículos elétricos.
  • Conscientização ambiental: entregadores e empresas de logística começam a perceber que a energia elétrica pode ser mais barata a longo prazo.
  • Infraestrutura de recarga: embora ainda limitada, a expansão de pontos de recarga em shoppings e estacionamentos está facilitando a adoção.

Entretanto, ainda há barreiras importantes: o preço das baterias, a autonomia limitada (geralmente entre 80 e 150 km) e a falta de modelos híbridos (até agora, nenhuma moto híbrida foi registrada).

Como a escolha da moto afeta o seu bolso – e não só

Se você está pensando em comprar uma moto, vale a pena analisar alguns aspectos além do preço de tabela:

  1. Custo de manutenção: motos de baixa cilindrada costumam ter intervalos de revisão mais longos e peças mais baratas.
  2. Consumo de combustível: a diferença entre 20 km/l e 30 km/l pode representar dezenas de reais por mês, dependendo da quilometragem percorrida.
  3. Valor de revenda: modelos populares, como a CG 160, tendem a manter um preço de revenda mais estável.
  4. Segurança: freios a disco, ABS e iluminação adequada são itens que podem fazer diferença em um trânsito caótico.

Além disso, pense no uso que você dará ao veículo. Se a ideia é fazer entregas em áreas urbanas densas, uma moto leve e ágil pode ser mais vantajosa que um modelo maior e mais potente.

O futuro das duas rodas no Brasil

Com a projeção de recorde de vendas para 2025, alguns cenários podem se desenrolar nos próximos anos:

  • Mais modelos de baixa cilindrada: as montadoras provavelmente vão lançar versões ainda mais econômicas, com foco em eficiência de combustível e preço.
  • Expansão das elétricas: se os incentivos fiscais e a infraestrutura continuarem a melhorar, as motos elétricas podem ganhar uma fatia maior do mercado, especialmente nas grandes metrópoles.
  • Regulamentação de trânsito: com o aumento do número de motociclistas, pode haver mais restrições de circulação em áreas centrais ou a implementação de corredores exclusivos.
  • Inovações tecnológicas: conectividade, painéis digitais e sistemas de assistência ao piloto (como controle de tração) podem se tornar padrão até 2030.

Essas mudanças vão impactar diretamente quem usa a moto como principal meio de transporte. Por isso, acompanhar as tendências pode ser um diferencial na hora de escolher o modelo que melhor se encaixa no seu estilo de vida.

Dicas práticas para quem quer entrar no mundo das motos

Se você ainda está indeciso, aqui vai um checklist que eu costumo usar quando converso com amigos que pensam em comprar a primeira moto:

  1. Defina o objetivo principal: deslocamento diário, lazer, trabalho ou entrega?
  2. Estabeleça o orçamento total: inclua preço da moto, seguro, IPVA, manutenção e combustível.
  3. Teste diferentes modelos: faça um test‑drive em pelo menos três opções para sentir a ergonomia.
  4. Verifique a rede de assistência: veja se há oficinas autorizadas perto de casa.
  5. Considere a revenda: pesquise o preço médio de revenda dos modelos que está avaliando.
  6. Pense na segurança: invista em equipamentos de proteção – capacete, luvas, jaqueta.

Seguindo esses passos, a chance de arrependimento diminui bastante.

Conclusão – a CG 160 como termômetro da mobilidade brasileira

O fato de a Honda CG 160 liderar a lista com mais de 437 mil unidades vendidas não é apenas um número impressionante. Ela funciona como um termômetro que mede a realidade da mobilidade no Brasil: necessidade de um transporte barato, flexível e confiável. Enquanto a maioria das motos vendidas tem até 160 cc, o mercado ainda tem espaço para inovação, especialmente no segmento elétrico.

Se você ainda não tem uma moto, talvez seja a hora de considerar a CG 160 ou um modelo similar. Se já tem, vale observar as tendências de consumo e, quem sabe, experimentar uma elétrica nos próximos anos. De qualquer forma, a duas rodas continua a ser uma solução essencial para milhões de brasileiros, e acompanhar esses números nos ajuda a entender melhor onde estamos e para onde vamos.

E então, o que você acha? Vai continuar com seu carro, vai investir numa moto de baixa cilindrada ou vai se arriscar numa elétrica? Compartilhe nos comentários – adoro ouvir histórias de quem já vive a experiência nas ruas!