Um papo rápido sobre a conta de luz
Na última sexta‑feira, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) divulgou um número que já está dando o que falar: a conta de luz deve fechar 2025 com um reajuste médio de 7 %. Se você está pensando que “7 % não é nada”, deixa eu te contar por que esse número pode ser bem mais impactante do que parece.
Como chegamos a esse 7 %
Em março, a projeção era de 3,4 % de aumento. Agora, quase o dobro. A principal razão? O orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que subiu para R$ 49,2 bilhões e tem tendência de crescer ainda mais em 2026. A CDE é um fundo setorial que financia políticas públicas no setor elétrico, e a maior parte desse dinheiro vem das próprias contas de luz, de multas e de aportes do Tesouro.
O que exatamente a CDE financia?
Para entender o impacto no seu bolso, vale a pena saber onde esse dinheiro vai. A CDE cobre:
- Tarifa social para famílias de baixa renda;
- Programa Luz Para Todos, que leva energia a regiões ainda sem acesso;
- Geração de energia em áreas isoladas, como comunidades ribeirinhas;
- Subsídios para fontes renováveis, como solar e eólica;
- Compensações para quem gera a própria energia (painéis solares, por exemplo).
Essas são políticas importantes, mas o custo delas acaba sendo distribuído entre todos os consumidores.
Por que a conta de luz ainda pode ficar mais barata em dezembro?
Mesmo com o aumento projetado, a Aneel avisou que o valor da conta pode cair no último mês do ano. Por quê? Dois fatores ajudam:
- O fim do ciclo de cobrança de alguns encargos setoriais;
- Possíveis descontos sazonais concedidos pelas distribuidoras.
Mas não se engane: a queda de dezembro não anula o impacto acumulado ao longo de 2025. É como aquele desconto de fim de ano que a gente sente aliviado, mas que não cobre tudo o que gastamos nos meses anteriores.
Um olhar histórico: como os reajustes evoluíram
Se você olhar para os últimos dez anos, verá que o reajuste médio anual costuma ficar entre 3 % e 6 %. Alguns anos foram mais suaves, outros mais duros. O que mudou nos últimos tempos?
- Investimento em renováveis: O Brasil tem apostado em energia solar e eólica, mas a transição tem custos de infraestrutura.
- Micro e minigeração distribuída (MMGD): Cada vez mais consumidores instalando painéis solares geram energia própria, o que reduz a demanda da rede, mas também altera a forma de cobrança.
- Inflação baixa: A inflação geral tem estado em patamares menores, mas os custos específicos do setor (como combustível e manutenção) não acompanham a mesma queda.
Esses elementos, somados ao aumento da CDE, explicam o salto de 3,4 % para 7 %.
O que isso significa para o seu bolso?
Vamos colocar números na mesa. Suponha que sua conta média mensal seja de R$ 150,00. Um aumento de 7 % equivale a R$ 10,50 a mais por mês, ou R$ 126,00 a mais ao longo de um ano. Parece pouco, mas quando a gente soma a todos os gastos da casa – água, internet, supermercado – esses R$ 126,00 podem ser a diferença entre fechar o mês no azul ou entrar no vermelho.
Além disso, famílias que dependem da tarifa social podem ver o benefício ser diluído, já que o fundo que o sustenta também vem da conta de luz geral.
Como se proteger ou, ao menos, amenizar o impacto
Eu sei que a maioria de nós não tem como mudar a política de tarifas, mas dá para adotar algumas estratégias que ajudam a reduzir a conta ou a compensar o aumento.
- Revisar o consumo: Apague luzes que ficam acesas sem necessidade, use lâmpadas LED e desconecte aparelhos em stand‑by.
- Aproveitar a tarifa social: Se a sua renda está dentro dos critérios, verifique se está cadastrado. O benefício pode representar até 30 % de desconto.
- Investir em geração própria: Painéis solares ainda têm um custo inicial, mas a conta volta a cair em poucos anos. Existem linhas de crédito com juros menores para esse fim.
- Participar da consulta pública da CDE 2026: Quando a Aneel abrir a consulta, você pode enviar sugestões ou críticas. Não é garantia de mudança, mas é a única porta de entrada para a sociedade.
- Negociar com a distribuidora: Algumas companhias oferecem programas de eficiência energética ou descontos para consumidores que adotam boas práticas.
O futuro da energia no Brasil: tendências e incertezas
Olhar para 2026 e além é um exercício de imaginação, mas alguns sinais são claros:
- Maior penetração de renováveis: A meta do governo de chegar a 33 % de energia limpa até 2030 está em andamento. Isso pode trazer novos custos de integração à rede, mas também reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
- Expansão da MMGD: Cada vez mais casas e pequenos comércios vão gerar sua própria energia. Isso pode mudar o modelo de tarifação, talvez criando tarifas diferenciadas para quem consome menos da rede.
- Digitalização e medição inteligente: Smart meters (contadores inteligentes) permitem leituras em tempo real e tarifação mais granular, o que pode beneficiar quem consome fora dos picos.
- Pressão por transparência: Consumidores estão mais informados e exigem clareza sobre onde cada centavo da conta vai. A Aneel tem se comprometido a publicar boletins detalhados, mas ainda há espaço para melhorar.
Essas tendências podem trazer novas oportunidades (como programas de recompensas por consumo fora de pico) e novos desafios (como custos de modernização da rede).
Um caso prático: a experiência da minha vizinha
Para deixar tudo mais concreto, vou contar a história da minha vizinha Ana. Ela mora em um apartamento de 70 m², tem duas crianças e recebe cerca de R$ 2.500,00 por mês. Até 2023, a conta de luz dela girava em torno de R$ 120,00. Quando a tarifa subiu 5 % em 2024, ela percebeu que o valor passou para R$ 126,00. Não parece muito, mas ela decidiu cortar o ar‑condicionado nos dias mais quentes e passou a usar ventiladores. Também trocou as lâmpadas incandescentes por LEDs, o que custou R$ 80,00, mas reduziu a conta em R$ 15,00 por mês.
Em 2025, com o reajuste de 7 %, a conta subiu para R$ 135,00. Ana, já acostumada com a prática de economizar energia, viu que ainda podia compensar parte desse aumento usando a energia solar. Ela entrou num consórcio de energia solar comunitária, onde um grupo de moradores compra um parque solar e divide a energia gerada. O custo mensal dela caiu para R$ 110,00, já incluindo a parcela do consórcio. Essa solução ainda não está disponível em todo o país, mas mostra como a criatividade pode ajudar a driblar os aumentos.
Resumo rápido: o que levar na mochila
- Reajuste médio de 7 % em 2025, acima da inflação.
- CDE em R$ 49,2 bi, com projeção de R$ 52,7 bi em 2026.
- Custos da CDE são repassados a todos os consumidores.
- Possibilidade de queda na conta em dezembro, mas não elimina o aumento anual.
- Estratégias de economia: LED, tarifa social, energia solar, consulta pública.
Conversa final
Eu sei que números de reajuste podem parecer frios e distantes, mas eles afetam a vida de quem a gente conhece, da nossa família ao vizinho da esquina. O importante é não ficar só no “vai subir” e sim buscar entender o porquê e o que dá para fazer.
Se você ainda não está acompanhando as discussões da Aneel, dê uma olhada no site oficial, leia o boletim InfoTarifa e, se possível, participe das consultas públicas. Cada voz conta, e quem sabe a sua sugestão não ajude a tornar a conta de luz mais justa para todos?
Agora, me conta: você já percebeu alguma mudança na sua conta nos últimos meses? O que tem feito para economizar energia? Compartilha nos comentários, vamos trocar ideias e, quem sabe, encontrar novas soluções juntos.




