Você já ouviu falar da meta fiscal? Se não, não se preocupe: a gente vai descomplicar tudo, desde o que é a banda de tolerância até porque o TCU (Tribunal de Contas da União) está avisando o governo que não é boa ideia sempre buscar o limite inferior.
## O que é a meta fiscal?
A meta fiscal é um dos pilares da política pública de equilíbrio entre receitas e despesas do Estado. Em termos simples, ela diz quanto o governo pode gastar em relação ao que arrecada, sem que o resultado fique fora de controle.
Para entender melhor, imagine que o governo tem três faixas de tolerância:
1. **Meta central** – o ponto de referência ideal, normalmente o déficit zero.
2. **Meta superior** – o limite máximo de déficit permitido.
3. **Meta inferior** – o limite mínimo de déficit, ou seja, o piso que o governo pode chegar antes de ser considerado fora do controle.
O que acontece quando o governo fica em cima do limite inferior? Basicamente, ele tenta congelar (ou “contingenciar”) gastos para não ultrapassar o número de despesa que está no teto. O problema é que, se ele sempre escolher o piso, pode acabar deixando a dívida pública em risco e a credibilidade da política fiscal comprometida.
## A história recente: do alerta do TCU à aprovação do Congresso
Em setembro de 2024, o TCU já havia advertido o Executivo: perseguir o limite inferior da banda de tolerância para fins de contingenciamento é irregular. A recomendação era que o governo buscasse o centro da meta, ou seja, o déficit zero.
Mas a realidade política é que o governo, após avaliar que a mudança poderia bloquear até R$ 30 bilhões nas contas públicas, pediu um recurso. Em 2025, o TCU acabou autorizando a prática, e em outubro o Congresso aprovou uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que permite que o governo continue mirando o piso da meta fiscal.
> “Fato concreto é que, diante das novas disposições da LDO 2025, não mais é dado ao Poder Executivo promover o contingenciamento por parâmetro outro que não o limite inferior da meta de resultado primário”, afirma o acórdão.
Mesmo assim, o TCU enviou um comunicado ao Executivo e ao Congresso explicando os riscos de buscar o limite inferior.
## Por que o TCU se importa?
Para entender a preocupação do TCU, precisamos olhar para o que acontece quando o governo sempre escolhe o piso.
### 1. **A dívida pública pode subir**
Quando o governo tenta manter o déficit dentro de um limite mínimo, ele pode acabar aumentando a dívida para financiar despesas que, de outra forma, teriam sido cortadas ou adiadas. Isso gera um ciclo de endividamento que pode ser difícil de quebrar.
### 2. **Credibilidade do país pode ser afetada**
Investidores e mercados internacionais observam de perto a saúde fiscal de um país. Se a meta fiscal for vista como uma “farsa” – sempre buscando o mínimo, mas sem realmente controlar os gastos – o risco de calote ou de aumento de juros aumenta.
### 3. **Impacto no futuro**
A meta fiscal de 2026 já prevê déficit zero. Se o governo continuar mirando o piso em 2025, ele pode estar colocando em risco o cumprimento dessa meta. Em outras palavras, o que parece ser uma solução de curto prazo pode custar caro a longo prazo.
## O que isso significa para o cidadão comum?
Muitos de nós pensamos que as regras de contabilidade do governo não afetam nosso dia a dia. Mas a verdade é que a política fiscal tem impacto direto na economia: juros, inflação, salários, serviços públicos e até na qualidade de vida.
### 1. **Juros mais altos?
Se a dívida pública cresce, os juros pagos pelo governo também aumentam. Isso pode se traduzir em mais impostos ou em cortes de serviços.
### 2. **Cortes de serviços públicos?
Para manter o déficit dentro dos limites, o governo pode decidir reduzir gastos em áreas como saúde, educação e infraestrutura. Isso pode afetar diretamente quem já luta para pagar contas.
### 3. **Inflação?
Quando o governo entra em déficit, ele pode recorrer a políticas de expansão monetária para financiar gastos, o que pode elevar a inflação.
## Como funciona o contingenciamento?
Contingenciamento é o processo de reduzir ou congelar despesas para manter o equilíbrio fiscal. É como quando você tenta cortar gastos em casa para não ultrapassar o orçamento.
### 1. **Tipos de contingenciamento
– **Congelamento**: paralisar o aumento de salários, benefícios ou contratos.
– **Redução**: diminuir o valor de determinados serviços ou projetos.
– **Atraso**: adiar pagamentos que não são urgentes.
### 2. **Onde o TCU se posiciona?
O TCU não considera a prática de buscar o limite inferior irregular por si só, mas alerta que isso pode gerar riscos. Em outras palavras, a prática pode ser “legal” mas não é recomendada.
## O que pode mudar no futuro?
O debate sobre a meta fiscal está longe de terminar. A LDO 2025 já permite a busca pelo piso, mas o TCU continua monitorando a situação.
### 1. **Possível revisão das regras?
Se a dívida pública continuar a subir ou se houver crises econômicas, o Congresso pode voltar a legislar sobre o tema, restringindo ainda mais a margem de manobra.
### 2. **Revisão de metas?
O TCU pode sugerir ajustes nas metas de 2026, talvez elevando o limite de déficit para acomodar a realidade econômica.
### 3. **Transparência e controle?
Uma das lições que o TCU quer passar é que o controle fiscal deve ser transparente e baseado em dados reais. Se o governo sempre escolher o piso, os dados podem ficar distorcidos.
## Um olhar prático: o que fazer se você for responsável por um orçamento?
Se você trabalha na área de finanças públicas ou administra um pequeno negócio que depende de contratos governamentais, aqui vão algumas dicas:
– **Monitore as metas fiscais**: fique atento às alterações na LDO e nas recomendações do TCU.
– **Planeje a longo prazo**: não conte só com cortes de despesas, mas busque eficiência e produtividade.
– **Diversifique receitas**: se possível, crie fontes de receita própria para não depender de subsídios ou empréstimos.
– **Seja transparente**: mantenha relatórios claros e honestos sobre o que está sendo gasto e por quê.
## Conclusão
O TCU não está dizendo que o governo está fazendo algo errado, mas que a prática de mirar sempre o limite inferior pode ser um tiro no pé. A meta fiscal é uma ferramenta complexa que, se usada corretamente, pode manter a economia estável. Se usada mal, pode levar a crises de dívida e à perda de credibilidade.
Para o cidadão comum, o que importa é que o governo faça escolhas que não comprometam o futuro: menos juros, serviços públicos estáveis e uma economia que não se enrole em dívida.
**Você já pensou em como o orçamento público pode afetar o seu bolso?** Se quiser saber mais, fique de olho nas decisões do TCU e do Congresso. A política fiscal pode parecer distante, mas tem impacto direto em cada conta que você fecha.
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**Palavras-chave**: TCU, meta fiscal, dívida pública, contingenciamento, LDO, política fiscal, economia, orçamento público.




